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A aceleração do tempo na vida cotidiana



A noção de tempo é relativa dentro do cotidiano de cada um. Historicamente, a cronologia representa referências distintas, como ciclos, épocas e fases onde se desenvolvem as ações humanas. Sociologicamente, o tempo traz o ritmo de vida de uma sociedade, está alinhado às transformações que ela produz e experimenta diante dos fatos. Filosoficamente, é uma sensação, como o indivíduo se percebe dentro das mais diversas situações temporais.


Na contemporaneidade, com a vida cotidiana cada vez mais dinâmica - ou corrida mesmo - criamos mecanismos para torná-la mais prática, buscando otimizar o tempo ao mesmo passo que tentamos absorver tantas informações que nos cercam diariamente. Para isso, aceleramos o que já tem como objetivo ser rápido e funcional. Na falta de tempo para escrever, enviamos áudio; na ausência de uma leitura profunda, criamos vídeos rápidos sobre os mais variados temas; e para saber logo do que se trata, legendas curtas e diretas para direcionar o assunto.


Agora, como se não fosse suficiente, podemos acelerar ou cronometrar essas ferramentas. Será que alguém que está realizando alguma atividade ao mesmo tempo que ouve um áudio acelerado em até duas vezes consegue de fato compreender a mensagem ou executar a atividade com a mesma qualidade? O que parece uma estratégia de “ganhar tempo” muitas vezes é se colocar em uma situação de dispersão e ansiedade, quando nos condicionamos a uma situação de atenção o tempo todo. Isso sem contar as possíveis falhas de comunicação causadas por uma escuta superficial e dispersa, além da distorção das palavras e da entonação da voz.


Especialistas de saúde mental já alertam para isso. Muitos acreditam que existe uma sobrecarga mental, com a sensação do aumento da pressão, na cobrança em atender logo e dar uma resposta mais rápida. Esse sentimento de urgência constante caracteriza um desequilíbrio que desestabiliza o foco, a concentração e até mesmo as relações interpessoais ao tornar tudo superficial e passageiro. Com tantos estímulos sob uma ótica de produtividade, a reflexão é sobre a qualidade humana por trás dessa busca tão intensa por resultados e retornos.


Na reinvenção tecnológica para uma comunicação mais dinâmica que atenda um público que não desacelera, os conteúdos também se adaptam a um relógio online que não para. Tutoriais em até um minuto sobre inúmeros assuntos e tópicos que surgem na tela enquanto uma pessoa dança ao som de uma música animada parece que viraram requisitos para profissionais ganharem visibilidade nas mídias. Não basta apenas ser bom no que se faz, é preciso ser bom nas redes também, atualizado com as incessantes novidades para influenciar pessoas de maneira rápida e interativa.


No mundo atual, utilizar as ferramentas a nosso favor é um grande ganho e se tornou uma necessidade. Mas é importante também filtrar o que cabe à realidade, à rotina e ao perfil de cada um. Pasteurizar comportamentos e informações em formatos de segundos nas redes ou acelerar o que já foi feito para ser dinâmico, pode nos deixar num campo profundo de superficialidade. O espaço para um questionamento ou um olhar crítico se perde, inclusive para nós mesmos e o que consumimos. Pensar sobre a nossa relação com o tempo e de que forma ele está presente em nossas vidas, bem como a forma como nos relacionamos com ele em meio a tantas exigências e compromissos, é construir um olhar sobre a nossa própria vivência cotidiana e as nossas relações, necessidades e acelerações diárias.



Texto por:

Carolina Grimião

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano PPGMC UFF




 
 
 

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