A Comunicação Popular projetada por imagens e (in)formação
- commovimentouff
- 25 de abr. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 17 de mai. de 2023
Dossiê do Emerge em parceria com a Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD)

Texto por: Jader Damasceno, doutorando do PPGMC/UFF e integrante do Emerge/UFF
As redes sociais, os formatos tradicionais de comunicação e as ruas, todos são espaços em disputa. O que eles têm em comum? As experiências imagéticas e suas implicações sutis no cotidiano dos consumidores de comunicações cruzadas. Nossa ideia aqui não é promover um movimento hierárquico dos sentidos a partir dos formatos, mas sim, identificar possíveis contribuições para combater as enxurradas desinformacionais (imagens-mensagens) pensadas e produzidas “com intenção de enganar” (HELLER, B.; BORGES, J. 2023) e violentar pessoas e grupos inteiros. O ponto central está embasado em como alguns desses dispositivos de sentido podem ser importantes ferramentas para pensarmos o nosso tempo.
Em uma sociedade hiper exposta, todas as imagens, produzidas para timelines das redes sociais ou projeções em arranha-céus nas grandes cidades, podem ser excelentes espaços de debate coletivo, educacional e comunicacional.
Para pensarmos esse fato usaremos o Coletivo Projetemos como exemplo de atuação on/off durante o período de crise sanitária global. O Coletivo em questão foi inicialmente formatado por vídeo jockeys que ganhou contornos mais agudos com a chegada de designers, produtores culturais, jornalistas e ativistas atuando em diferentes frentes e interesses. O projeto surge a partir da constatação que muitas pessoas durante a primeira onda da Covid-19 1 , entre abril e maio de 2021, estavam descoladas da crise sanitária e sua gravidade. Esse movimento de desinformação, em grande medida, foi marca registrada do governo em exercício durante todo o período de crise sanitária mundial.
Tendo em vista a população se aglomerando nas ruas de várias cidades brasileiras, o coletivo imaginou, a partir de seus idealizadores VJs Boca e Mozart, a possibilidade de desenvolver outros modelos de comunicar e informa a comunidade o que estava acontecendo por trás das políticas de morte.
O ano era 2020 e neste período, segundo os idealizadores, com pouco tempo de formação o Coletivo Projetemos já contava com um pouco mais 200 pessoas de diversas localidades brasileiras formulando intervenções e performances imagéticas de cunho político com forte propensão a defesa de direito fundamentais como saúde, educação e comunicação.
Por seu caráter de produção fluido e autogestionado, o dado correspondente a sua dimensão atual se torna impreciso. Como os mesmos dizem: todos nós podemos ser um projecionista.
Em uma de suas redes o coletivo se autoproclama uma “Rede nacional de projecionistas livres” e afirma que “Se organizar direitinho, todo mundo projeta!”. Apesar de pulverizados entre Instagram, Facebook, Twitter, Telegram e WhatsApp, o Coletivo Projetemos encontra no seu site “projetemos.org” instrumentos de formação popular sobre suas ações e formas de atuação.
O impacto desta comunicação descentralizado e horizontal é essencialmente uma característica de modelos de comunicação popular, comunicação alternativa e midiativista. Um formato de comunicação aos moldes do tempo-espaço presente, seus desafios e questões emergenciais. O que surge inicialmente como uma ação ativista com traço artístico não conformista, matéria orgânica do próprio fazer artístico, insurge nos espaços urbanos como outras formas de estabelecer diálogos comunicacionais por meio da auto- organização. O Coletivo Projetemos disponibiliza em suas redes um espaço onde qualquer pessoa pode propor possíveis projeções (texto e imagem) a serem exibidas nas paisagens e pontos turísticos brasileiros. Ao acessar outro espaço do site, o Coletivo instrumentaliza o visitante a produzir amadoramente uma gambiarra de projeção, capaz de reproduzir ideias em qualquer lugar do mundo.

A realidade pandêmica e suas implicações sociais desafiaram a humanidade, pensar o tempo do homem político e sua relação comunicacional/social a partir das ferramentas disponíveis no seu tempo. Projetores, celulares, computadores e programas de edição disponibilizados em serviço de distribuição digital podem se tornar ferramentas de comunicação popular capazes de ampliar não apenas políticas públicas voltadas para a saúde, mas também o “exercício da cidadania comunicacional” (PERUZZO, 2010) com relação ao combate a desinformação e o bem viver coletivo.

Neste sentido, as comunicações produzidas das relações on/off fornecem espaços de troca e diálogo entre diferentes contextos e ambientes. Este movimento de revisão sócio-histórico, assim como a própria forma de fazer as coisas, devem e podem ser a cessados e atualizadas pelo homem comum à medida emergencial do seu tempo.
A movimentação sutil da sociedade civil organizada via dispositivos comunicacionais, culturais e políticos podem romper no interior das comunidades desatentas, tanto as desinformações como os discurso hegemônicos em fase de cristalização social. Tendo em vista esse exemplo, podemos imaginar que as revisões críticas produzidas através das relações sensíveis são fatores centrais para a compreensão e formulação de ações capazes de combater a desinformação em sociedades massivamente capturadas por ideias falsas e violentas.

Referências:
1 CNN BRASIL. O que são ondas da Covid-19 e porque o Brasil pode estar diante da terceira. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/o-que-sao-ondas-da-covid-19-e-por-que-o-brasil-pode-estar-diante-da-3/#:~:text=%E2%80%9CQuando%20observamos%20os%20gr%C3%A1ficos%20da,teve%20o%20pico%20em%20mar%C3%A7o. Acesso em: 20.04.2023
HELLER, B.; BORGES, J. Como combater a desinformação a partir da biblioteca universitária. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/193027. Acesso em: 20 abr. 2023.
PERUZZO, Cicília. Políticas públicas para radiodifusão comunitária no desenvolvimento local. GUMÚCIO-DAGRÓN, Alfonso y HERRERA-MILLER, Karina. Política y legislación para la radio local en America Latina. La Paz, Plural, 2010
MESQUITA, André Luiz. Insurgências Poéticas. Arte Ativista e Ação Coletiva. (Dissertação
de Mestrado em História Social) 420 p. São Paulo, 2008.

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