A Queda de Karol Conká

Texto por: João Victor Araújo, Marcella Cardoso e Thamyres Medeiros (Graduandos(as) da UFF).

"O cancelamento é […] o boicote e banimento virtual como punição por ações julgadas como indevidas. Assim, “cancelar” é a reprovação e o repúdio a falas ou posicionamentos em relação a um tema qualquer” (SIGNIFICADOS, 2023). A partir dessa definição, vemos que a ideia de cancelamento em seu princípio é algo que existe há muito tempo, apenas ganhou uma nova nomenclatura nos tempos das redes sociais. Pensando nesse tema e tomando como exemplo o caso Karol Conka, vamos analisar parte a parte a relevância desse quadro para estudos de gestão de crise, influenciadores e manifestações de ódio nas redes sociais, principalmente no Twitter.

Em 2021, a cantora Karol Conká, de 37 anos, aceitou o convite de participar do reality show Big Brother Brasil, que, para muitas celebridades, é um palco enorme para potencializar sua carreira, aumentar seus seguidores e ganhar muito mais visibilidade em diferentes aspectos, mas, em contrapartida, também é possível ver uma carreira desmoronar em questão de dias, por uma fala infeliz vista por um público nacional. Foi isso que aconteceu com a cantora, por ter tido muitas atitudes controversas, posturas agressivas, brigas desnecessárias e falas ofensivas contra outros participantes, Karol foi eliminada com a maior porcentagem já vista no reality (99,17%) e aqui fora, sua vida já estava desmoronando com a perda de contratos, xingamentos em redes sociais, ameaças gravíssimas a sua vida e a vida de sua família e uma carreira estável acabou sendo colocada em risco.

Para contextualizar, vamos entender a potência que são os realities shows, em especial o Big Brother Brasil. Em 2020, no começo da pandemia do Covid-19 e do período que vivenciamos em quarentena, o maior entretenimento que tínhamos para dividir entre amigos e nas redes sociais, era o BBB20, que também foi a primeira temporada mesclando participantes anônimos e famosos. Nesse sentido, foi um primeiro teste desse formato tanto para os produtores do programa, quanto para as celebridades que aceitaram fazer parte disso, sabendo que poderia potencializar sua carreira, mas não tendo dimensão dos efeitos negativos que essa exposição a nível nacional poderia trazer. Ainda sim, foi uma temporada relativamente tranquila em relação a cancelamento, apesar de muitos espectadores acreditarem que a internet é terra de ninguém e se esconderem atrás de perfis fakes para difamar outros, muitas vezes até cometendo crimes em suas falas. Dessa primeira experiência, alguns participantes se destacaram, como Manu Gavassi e Bianca Andrade, também conhecida como Boca Rosa.

Dando destaque ao caso da Manu Gavassi, a cantora, atriz e apresentadora saiu com propostas de grandes marcas por conta do seu marketing inovador nas suas redes sociais no período que estava confinada. Segundo a mesma, em dois dias foram gravados todos os vídeos veiculados nesse período e ela própria roteirizou tudo, deixando diferentes vídeos para inúmeras situações possíveis de serem vividas dentro do confinamento, e a cada acontecimento, sua equipe ia soltando os conteúdos que, como foi a primeira edição com celebridades, surpreendeu muito o público pela organização e considerando que a cantora ficou até a final, foram realmente muitos takes para trazer as vivências do programa por 3 meses e meio para suas redes. Dessa forma, Manu virou referência para as celebridades que toparam entrar nas edições seguintes, mas, ao mesmo tempo, todos se iludiram ao acreditar que esse exemplo serviria como uma fórmula pronta, esquecendo que quem potencializa ou destrói uma carreira, é o público, e isso se dá pela afinidade de cada um com o que é visto individualmente de cada participante dentro do reality.

Entretanto, no BBB21, apesar dos participantes já terem noção do que era participar de um reality já sendo famoso, o cancelamento e o hate nas redes tomou proporções inimagináveis. Dois participantes se destacaram por terem sofrido muito com falas ofensivas e atitudes agressivas dentro do programa, Juliette, a campeã da edição e Lucas Penteado, que desistiu da competição logo na segunda semana.

Desde o começo, Juliette ganhou a narrativa de vítima por conta das exclusões que sofria de outros participantes dentro de conversas, comentários sobre sua origem nordestina, e outras falas que apesar de ofensivas, à deram força para ser a campeã da edição e, em contrapartida, teve o potencial de eliminar diversos outros participantes que a ofendiam, como Projota, Nego Di e Karol Conká. Esses três participantes tiveram que enfrentar uma severa gestão de crise pós eliminação, e com Karol Conká foi ainda mais intenso por ter sido a maior porcentagem de eliminação da história do Big Brother e porque o teor de suas falas foi bem grave, o que implicou em perda de contratos, pois as marcas não queriam ter seu nome associado a alguém com uma reputação tão negativa quanto a dela no momento, ameaças a sua integridade física e de sua família e perda de muitos seguidores, que nessa era da internet, é um dos pontos cruciais para a carreira e, no caso dela ter aceitado ir pra um reality, a perspectiva era sair com mais seguidores e aconteceu exatamente o oposto.

Nesse contexto, podemos concluir que o cancelamento é um ponto baixo da sociedade quando falamos da potência que são as redes sociais, visto que muitas pessoas usam de ferramentas poderosíssimas para incitar o ódio ao invés de utilizá-la positivamente. Karol Conká foi um exemplo extremo de como a comunicação agressiva e o poder das mídias para construir qualquer narrativa pode destruir uma carreira e até inflar situações que já são complicadas no offline.