CBCC e ALAIC na UFF
- commovimentouff
- 3 de dez. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de ago. de 2021
Eventos debatem sustentabilidade, autonomia e resistência da Comunicação Alternativa na América Latina

A Universidade Federal Fluminense (UFF) foi sede da XIV Conferência Brasileira de Comunicação Cidadã (CBCC) e do X Seminário da Alaic (Associação Latino Americana de Investigadores em Comunicação). Pela primeira vez, os dois eventos, que debatem a sustentabilidade, autonomia e resistência da Comunicação Popular, Comunitária e Alternativa, aconteceram em conjunto, reunindo mais de 400 pessoas no Instituto de Artes e Comunicação Social (IACS). O potencial e o desenvolvimento da mídia independente no contexto latino-americano e, especialmente no brasileiro, ocuparam espaço central nos debates.
Em um contexto de dificuldade de diálogo e presença de ruídos nas relações entre pessoas e entidades, pensar em como a comunicação independente se sustenta, se mantém e se legitima é fundamental. Para Adilson Cabral, professor do curso de Comunicação Social da UFF e coordenador geral do evento, o diálogo entre a CBCC e o ALAIC veio como possibilidade de articular a América Latina em torno desse tema tão necessário e raro, tanto na área acadêmica quanto na política.
— A ideia é fazer uma ponte entre a academia e a sociedade e tentar decifrar um pouco desse problema que é econômico e, ao mesmo tempo, derivado de uma falta de legitimação dessa iniciativa de comunicação junto à sociedade.
Ao todo, foram quatro dias de evento – entre 22 e 25 de outubro – com 52 sessões de trabalhos. Nesses espaços, pesquisadores de diversas nacionalidades apresentaram suas pesquisas. O objetivo compartilhado por eles é trazer retornos concretos para a sociedade em três frentes: no que tange as questões políticas, se pretendeu analisar as restrições que as iniciativas independentes sofrem por meio de medidas e legislações que são formuladas, implementadas e conduzidas em seus países; na esfera econômica as discussões giraram em torno da captação de recursos públicos e da viabilidade de investimento privado na mídia alternativa; e, por fim, no âmbito cultural, os grupos buscaram compreender como a comunicação comunitária atua, visto que ela geralmente não é pauta de pesquisa e
debate nos cursos de comunicação.
Os primeiros passos na pesquisa
Entre os participantes há grandes nomes da comunicação alternativa na América Latina – professores, autores de livros e pesquisadores reconhecidos – mas também jovens estudantes que estão começando a explorar o universo científico. Uma das pautas defendidas pelas comissões dos dois eventos é a de ampliar os horizontes acerca da pesquisa e aproximar os estudantes de graduação desses espaços.
Victor Gabry, de 21 anos, aluno do sexto período de jornalismo da UFF, começou a explorar a área científica através por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, o Pibic, ainda no segundo semestre da faculdade. A pesquisa sobre comunicação popular e alternativa na cidade de Niterói abriu portas para novos projetos e despertou nele a paixão pela carreira acadêmica. Só neste ano, Victor já apresentou suas pesquisas em cinco congressos brasileiros e um latino-americano.
— Eu passei a deixar de ver a aula teórica como besteira de faculdade e passei a ver como algo que contribui para formação e trabalho. Toda pesquisa tem aplicação prática e transforma o estudante em um profissional melhor. Quem pesquisa é trabalhador e isso me abriu os olhos para ver que dentro de uma faculdade de jornalismo eu posso ser pesquisado.
Já o estudante de Publicidade e Propaganda, Bruno Mendes, de 19 anos, mergulhou no universo da pesquisa desde o primeiro semestre da faculdade. Cursando atualmente o segundo período, ele participou do seu primeiro congresso esse ano. Bruno foi até Belém do Pará apresentar sua pesquisa – na área de gênero e sexualidade – no Intercom Nacional. A CBCC e o Seminário da Alaic são o segundo momento de troca do qual o estudante participa. Bruno diz que o espaço o fez refletir sobre as diferentes aplicações
da ciência e, também, na possibilidade de se tornar professor.
— Quando soube que existia o Intercom, decidi ir por curiosidade. Não tinha muita noção do que era estar em uma faculdade e em um curso de comunicação, muito menos de como a ciência se aplicava na área. Para mim, ciência era o que eu estudava na escola, uma mistura de dois compostos e reações químicas. Mas, aqui descobri que não e essa é a parte que eu mais gosto, entrar em um campo de estudo que me agrada e saber que ali eu posso me aprofundar mais e mais e aplicar ciência — compartilhou o estudante.
A construção dos eventos
A Conferência Brasileira de Comunicação Cidadã acontece anualmente e o Seminário da Alaic a cada dois anos, intercalados aos encontros – que possuem uma temática mais ampla. O planejamento da CBCC na UFF vinha sendo realizado desde 2017 e, no início desse ano, foi acordada a parceria com a Alaic, para que os eventos ocorressem juntos.

A proposta de articulação recebeu apoio da Capes e da Faperj, agências de fomento em nível federal e estadual, respectivamente, que foram alguns dos coadjuvantes da realização desse grande evento. Investimentos como esses impulsionam e dão ânimo aos pesquisadores em tempos em que as políticas pré-estabelecidas e as instabilidades econômicas favorecem a desconstrução dos espaços da comunicação comunitária e alternativa, além do próprio ambiente acadêmico.
Para o professor Adilson Cabral, a recepção desses dois grandes eventos na UFF estimula ainda mais o debate entre a comunidade acadêmica nacional, a sociedade e os grupos latino-americanos, tornando a instituição o núcleo de um debate pertinente nos dias atuais.
— Quando a gente traz para o curso de comunicação esse debate, estamos tanto possibilitando visibilizar nossa produção nessas áreas como também passamos a ter contato com o que está sendo produzido por estudantes, pesquisadores e professores de outras áreas, tanto no Brasil quanto na América Latina. Então é proporcionado um contato, intercâmbio e a possibilidade de uma troca enriquecedora para quem recebe e para quem oferece — pontuou Adilson Cabral.
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