Comerciantes tentam driblar impactos financeiros da pandemia do coronavírus
- commovimentouff
- 26 de abr. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de abr. de 2020
Empreendedores evidenciam estratégias para reduzir o prejuízo dos estabelecimentos durante a quarentena

Confeiteira utiliza materiais de proteção │ Foto: Carolinne Cabral
Por Carolinne Cabral
Donos de estabelecimentos comerciais e micro-empreendedores vêm enfrentando dificuldades com a restrição, ou até suspensão, do funcionamento do comércio, medida anunciada para tentar conter o avanço da Covid-19. Alguns encontraram, no delivery, a saída para continuar funcionando. Conforme o Diário Oficial publicado no dia 17 de março pelo governo do Estado do Rio, bares, restaurantes e lanchonetes podem continuar com o atendimento ao público possuindo 30% da capacidade de lotação. Por outro lado, na região metropolitana, o prefeito de Niterói Rodrigo Neves determinou o fechamento público do comércio, permitindo, apenas, a manutenção do serviço de entrega. Para os comerciantes, a nova realidade traz dificuldades.
O maior desafio, para mim, é ter que se reinventar, buscar estratégias para continuar vendendo — Deise Cabral, micro-empreendedora.
Deise Cabral trabalha com confeitaria na Zona Norte do Rio. Ela afirma que o maior impacto da pandemia em seu negócio é o medo, por parte dos clientes, de uma possível contaminação.
— Elas [as pessoas] estão evitando comprar determinadas coisas. No meu caso, como se trata de produto alimentício, existe o medo da contaminação. Isso impacta, obviamente, no faturamento. O prejuízo é certo. O maior desafio, para mim, é ter que se reinventar, buscar estratégias para continuar vendendo — ressaltou.

Deise trabalha com todas as medidas de prevenção │ Foto: Carolinne Cabral
Dona de uma doceria virtual online, ela conta que teve que pedir ajuda do marido para realizar as entregas dos seus produtos durante a Páscoa, época mais lucrativa para quem trabalha com chocolates. Expõe, ainda, que se deparou com mais uma dificuldade durante a quarentena: encontrar as mercadorias que necessitava para embalar e entregar as encomendas.
— As lojas que me fornecem os materiais também estavam fechadas. Isso dificultou ainda mais o meu trabalho.
Para suprir as perdas decorrentes desse cenário, a confeiteira relata que usa como estratégia o corte de custos, descontos nos produtos e a opção de delivery.
O impacto é muito grande e muito negativo — Marcos Quintanilha, comerciante
No outro lado da ponte, Marcos Quintanilha, dono de um restaurante localizado em Itaipu, região oceânica de Niterói, está sofrendo diretamente com as consequências da pandemia. Para ele, o maior desafio a ser superado é a falta de consumo e de clientes, que impactam negativamente no faturamento do estabelecimento:
— O impacto é grande no faturamento. Você só com o delivery, como no nosso caso, consegue manter somente a despesa, e a despesa fixa que a gente tem é muito grande. Luz, água, telefone, aluguel, todas essas coisas. O impacto é muito grande e muito negativo — afirmou.
Estabelecimento trabalha apenas com o serviço de delivery / Equipe reduzida foca no atendimento e fornecimento de quentinhas │ Fotos: Marcos Quintana e Mônica Teixeira
Ele conta que, como estratégia, permanece fazendo um trabalho que já é realizado há mais de 10 anos: o serviço de entregas.
— Foi feito um investimento nisso bem no começo, com uma equipe boa de trabalho, que não é mexida e está comigo há 10 anos. Nessas horas, isso faz a diferença — explicou.
O comerciante afirma que reduziu sua equipe de funcionários, principalmente na parte de atendimento, realizado pelos garçons, que entraram de férias pela casa. Ressalta, ainda, que ação foi realizada sem incentivo, portabilidade e auxílios do governo. A equipe que permanece trabalhando é apenas a essencial para o funcionamento das entregas.
Prevenção e medidas de segurança
A pandemia da Covid-19 acendeu um alerta para quem trabalha com o setor alimentício no país. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, no dia 9 de Abril, duas notas técnicas direcionadas às empresas que trabalham com alimentos. O objetivo é diminuir a disseminação do coronavírus durante a pandemia. Nelas, a agência ressalta a importância da higienização das mãos e dos equipamentos de trabalho, orienta sobre o contato e o distanciamento físico. Alerta também sobre o controle de transporte de produtos e matérias-primas.
Da mesma forma, para contribuir no combate à pandemia, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) lançou, na última semana, um e-book com um guia prático que auxilia os trabalhadores a lidarem com a doença nos bares e restaurantes. Nele, os cuidados a serem tomados seguem o mesmo parâmetro da Anvisa e das recomendações do Ministério da Saúde: lavagem de mãos, uso do álcool em gel e higienização de utensílios.
Ao falar sobre as medidas de prevenção, Deise Cabral, micro-empreendedora, afirma que está tomando todos os cuidados necessários durante a produção dos seus produtos:
— Trabalho sempre com a higienização das mãos, uso de máscaras, álcool em gel e limpeza do local. Mantenho o distanciamento físico e opto pelas pessoas em casa, com as entregas sendo realizadas apenas pelo delivery. A gente trabalha sem precisar ter o contato com as pessoas de fora, para a segurança de todos.

Marcos Quintanilha, comerciante, também assegura estar seguindo as recomendações de segurança. Os atendimentos na porta da loja estão encerrados e, nas entregas, os motoqueiros trabalham com todas as precauções que devem ser tomadas.
— Todos usam álcool em gel, máscaras e o contato com o cliente é apenas no uso de máquinas de cartão — explica.
Perdas a longo prazo
Para os entrevistados, mesmo com as estratégias adotadas para superar o momento de crise, o impacto negativo é iminente. Deise relata que, da mesma forma que foi benefeciada nas vendas pelos clientes do bairro, sua projeção de crescimento foi estacionada e a pandemia levou, por consequência, o atraso no desenvolvimento do seu negócio.
— O empreendedorismo vai aos poucos. Aconteceu isso e atrasou todo o meu planejamento futuro. A mudança só foi benéfica para me dar visibilidade — afirmou.
Quintanilha garantiu que, no momento, o delivery tem crescido, contudo, está ciente de que daqui a algum tempo, pode voltar a cair:
— Do mesmo modo que ele cresce, ele tem uma queda. O dinheiro das pessoas vai acabando e com isso eu acredito que daqui a um mês, no máximo, se essa situação continuar, vai começar a ter uma queda nesse atendimento — disse o proprietário.
Ele conclui e esclarece que as perdas orçamentárias, no final, não são supridas pelo sistema de entregas.
— Esse é o nosso dia-a-dia, é a nossa realidade. Agora é esperar para ver quando isso acaba.
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