Coronavírus e falta d'água são pesadelos em comunidades no RJ
- commovimentouff
- 2 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de abr. de 2020
Moradores enfrentam dificuldades para seguir principal recomendação dos Órgãos de Saúde em meio à pandemia de COVID-19: lavar as mãos

Por Thaís Gesteira
A pandemia de COVID-19 trouxe ao mundo um novo desafio: o de lavar as mãos corretamente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e com o Ministério da Saúde, para que a população consiga combater o novo coronavírus em todo o mundo, lavar as mãos com sabão diversas vezes ao dia é mais importante que higienizá-las com álcool em gel. Parece fácil, basta uma busca na internet para encontrar vídeos ensinando quais movimentos fazer, quais produtos usar, por quanto tempo esfregar e tudo o mais. No entanto, nas comunidades do Rio de Janeiro, a realidade está muito distante do ideal. Em alguns locais do Estado, ter água encanada na torneira das casas é um luxo.
Em um texto compartilhado mais de 150 vezes no Facebook, o produtor cultural Julio Ludemir, morador do

Morro da Babilônia, na Zona Sul da capital, elencou diversos itens de prevenção ao coronavírus aos quais os moradores da comunidade não têm fácil acesso.
“Desculpe, governador, que aparentemente não está sendo tão patético quanto o presidente e o prefeito, mas você não diz nada para ninguém aqui quando diz que não vai cobrar água nos próximos dois meses. O problema aqui é ter água, que jamais chega com a quantidade necessária para que lavemos as mãos com a frequência exigida pela crise sanitária, muito menos para lavarmos as roupas tão logo entremos em casa”, desabafou Ludemir em um dos trechos da publicação.
Em Itaboraí, a mais de 60 Km de distância do Morro da Babilônia, a estudante Cláudia Santos também encontra dificuldades no acesso à água potável. No bairro Visconde, onde mora há três décadas, não há nem saneamento básico, quanto menos água encanada - a despeito do que se assegura como direito fundamental pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei 11.445/2007.

(Lei de Saneamento Básico no Brasil │ Disponível em: <encurtador.com.br/yGSW8>)
Cláudia e todos os seus vizinhos precisaram construir poços artesianos ou “bocão”. O poço bocão, que tem em sua casa, não fornece água potável, a qual eles só têm acesso comprando galões. Para construir um poço artesiano, entretanto, é necessário um grande investimento financeiro - investimento esse que a família da estudante ainda não conseguiu fazer.
— Certa vez, há uns três anos, ficamos sem água nenhuma aqui. Estava muito quente e não chovia e, com isso, os poços bocões secaram. Foram meses pegando água com vizinhos que tinham artesianos — relembrou Cláudia, que desabafa:
— Estaríamos menos preocupados e seguindo as recomendações da OMS se tivéssemos saneamento básico, se eliminassem os esgotos a céu aberto e, quem sabe, se a Cedae colocasse água no bairro.

(Poço artesiano da casa de Claudia, entrevistada │ Foto: Claudia Santos)
Denúncias à Defensoria Pública
Com o volume de queixas nos últimos dias e a preocupação com a proliferação do coronavírus, a Defensoria Pública do Estado criou um canal para fazer um levantamento da situação de fornecimento de água no Rio de Janeiro, principalmente nas favelas. Em apenas cinco dias, o órgão mapeou 140 localidades no Estado que não têm acesso a água potável fornecida por empresa de saneamento estatal. Lançado no dia 18 de março, o canal recebeu, até o dia 23, 475 denúncias, vindas de 14 municípios. Dados do relatório preliminar, apresentado à Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), evidenciam que 397 destas denúncias são sobre “torneiras secas”. As comunidades que registraram mais denúncias foram Tabajaras com 93 registros, Rocinha com 27 denúncias e Alemão com 14.
Corrente do bem
Para lutar contra a disseminação da COVID-19 nas comunidades do Estado e combater a falta de informação, movimentos e organizações comunitárias locais têm se unido em campanhas de arrecadação de itens como água potável, sabonete, álcool 70% e alimentos não perecíveis – a fim de que os moradores possam deixar seus trabalhos (na maioria das vezes informais) e ficar em isolamento social, conforme recomendado. Para contribuir, basta clicar nos seguintes links:
Denuncie
Para denunciar a falta d’água em sua casa, a população pode entrar em contato com a ouvidoria do Ministério Público pelo número 127 e com a ouvidoria da Defensoria Pública pelo número 0800 2822 279.
Cedae
Em nota, a Cedae informou que as equipes de atividades operacionais estão trabalhando nas ruas e nas unidades que solicitam atendimento, “dando continuidade ao serviço de fornecimento de água”. Segundo a empresa, “qualquer registro de falta d'água está sendo identificado e prontamente atendido”. Os pedidos são feitos pelo telefone 0800-2821195.
A Companhia informa que atendeu 561 chamados em comunidades da região metropolitana entre os dias 16 e 24 de março e que colocou nas ruas esta semana, em caráter emergencial, 40 novos caminhões-pipa para “atender prioritariamente comunidades da região metropolitana do Rio de Janeiro”.
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