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Demissões, suspensão de contratos e risco de contaminação: o dia a dia dos jornalistas na pandemia

Atualizado: 29 de mai. de 2020

Profissionais temem redução de salário e desemprego

Home office e insegurança | Foto: Unshplash


Por Mariana Trindade


Desde o início da pandemia, uma das profissões que seguiu na ativa foi a dos jornalistas. Apesar da nova rotina, o serviço de levar a informação ao cidadão não pode parar. Com isso, muitos profissionais colocam suas vidas em risco, se expondo ao vírus. Porém, nesse momento, o medo de boa parte da classe não é a doença, mas sim perder o emprego.


Paulo da Silva*, analista de jornalismo empresarial da Comunica Rio*, organização especializada em serviços de alimentação, teve seu contrato suspenso no início do mês. Ele

conta que inicialmente se manteve de home office e que não esperava ter suas atividades interrompidas:


— Todos os analistas da equipe tiveram seus contratos suspensos, apenas a coordenadora

que não teve, [o salário] foi 50% reduzido. Eu não esperava porque estávamos implementando o protocolo de segurança desde o início da pandemia e nossa preocupação era com as pessoas do serviço essencial, principalmente porque atendemos essas empresas. A empresa alega que tomou essas medidas na intenção de não precisar demitir ninguém e que as pessoas possam voltar no próximo mês…


Para ele, a pior parte é a incerteza de como ficarão as coisas nos próximos meses:


— Impactou minha vida de forma negativa, me sinto desamparado porque não tenho a certeza de como as coisas vão ficar, como vão ser feitos os pagamentos, principalmente a parte que o governo é responsável. Eu moro sozinho, tenho que pagar aluguel, mercado, energia, Internet, eu dependo do meu salário para continuar vivendo. A comunicação é sempre taxada como serviço não essencial, o coração das empresas sempre é considerado o financeiro e eu fico triste de ver como o jornalismo, que é uma função fundamental para ajudar e conscientizar as pessoas do que é possível ser feito, seja sempre o primeiro a ser suspenso — conta Paulo da Silva*


Acredita-se que o número de demissões da classe aumentou, mas não é algo comprobatório. Uma vez que, com a reforma trabalhista as empresas não são mais obrigadas a fazer homologação de demissão no sindicato dos jornalistas , Carol Barreto, diretora do Sindicato dos Jornalistas.

Para Marco Torres, jornalista e produtor da STB, a situação foi um pouco diferente. Ele não teve seu contrato suspenso, mas toda sua rotina foi alterada. Há quase dois meses ele trabalha de casa, após a morte de outros dois jornalistas da redação por Covid-19:


— Me sinto instável no meu trabalho, ainda que trabalhando na empresa há quase cinco anos, eu sou MEI, a ausência da carteira assinada é muito comum no jornalismo, a grande maioria do SBT é assim, e essa modalidade traz instabilidade — argumenta Marco Torres*


Ele conta também qual foi o posicionamento que a empresa tomou diante da situação:


— A empresa disponibilizou álcool gel para toda equipe e no mês de abril já estávamos de home office, com equipes de esporte e entretenimento reduzidas, mas infelizmente perdi alguns amigos de trabalho e alguns de nós foram infectados — conta Marco Torres


— Eu fico triste de ver como o jornalismo, que é uma função fundamental para ajudar e conscientizar as pessoas do que é possível ser feito, seja sempre o primeiro a ser suspenso —, Paulo da Silva*, analista de jornalismo

Segundo Carol Barreto, Jornalista e diretora do Sindicato dos Jornalistas, com a reforma trabalhista as empresas não são mais obrigadas a fazer a homologação de demissão no sindicato, logo, não há como comprovar se o número de demissões aumentou ou diminuiu, mas acredita-se mais no aumento durante a pandemia. Carol afirma que, ciente dos acontecimentos, o sindicato vem fazendo sua parte, buscando garantir que os jornalistas tenham seus equipamentos de proteção individuais - como álcool gel e máscara. Além da negociação com as empresas, tentando assegurar que estas irão arcar com custos do trabalho remoto, e manter os planos de saúde, vales-alimentação, entre outros benefícios.


Com intuito de entender melhor a situação, o sindicato dos jornalistas realizou uma pesquisa composta por perguntas objetivas, além de apresentar um espaço aberto para os jornalistas relatarem como está ocorrendo este período de trabalho em casa. O Comunicação em Movimento teve acesso às respostas, que são variadas, mas, em geral, todos contam como se sentem privilegiados por poderem se isolar e trabalhar de casa.


Uma preocupação do sindicato é que este sentimento desestimule que eles garantam seus direitos. Quase todos que responderam - 97,9% - alegam que a empresa não encaminhou nenhum acordo para redução de salário e/ou jornada de trabalho. Porém, 51,1% afirmaram estar fazendo hora extra sem saber se elas serão pagas pelo empregador. Além disso, mais de 70% das empresas não derem o suporte necessário para que o home office ocorresse de forma eficiente - isso significa que não disponibilizaram computadores, celulares e nem garantiram que todos os empregados tivessem internete em casa.


Situação dos jornalistas durante a pandemia │ Foto: Sindicato dos Jornalistas


*Os nomes foram adulterados para preservar a identidade dos entrevistados

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