Diversidade nas escolas: a importância da construção de um ambiente acolhedor para alunos LGBTQIAPN+
- commovimentouff
- 14 de jul. de 2023
- 3 min de leitura

Texto por: Julliane, Thiago e Larissa (Graduandos(as) da UFF).
Ainda não existem estudos suficientes que afirmem com precisão em qual idade um ser em formação, seja criança ou adolescente, percebe ou toma consciência de sua orientação sexual, mas estima-se que a partir dos 9 anos de idade a criança já tem seus primeiros impulsos ou questionamentos quanto a essa característica própria. A dificuldade em determinar a idade exata, ou pelo menos uma média, pode ser explicada quando entende-se que o processo de descoberta da sexualidade é psicológico e reflete interações da biologia e do contexto sócio-histórico no qual o indivíduo está inserido. Ou seja, é um processo subjetivo que, em muitos casos, torna difícil encontrar um padrão ou denominador comum que facilite a construção de um estudo determinante. Entretanto, a falta deste tipo de estudo específico não impede a construção de pensamentos e reflexões acerca do assunto.
Quando o assunto é a idade do indivíduo, mais especificamente a destacada mais acima, espera-se que este já esteja frequentando o ambiente escolar, uma das suas primeiras experiências em sociedade e que terá grande importância na sua formação pessoal. É nesse ambiente que ele aprende na prática o conceito de grupo, descobre sua necessidade de pertencimento e principalmente sua subjetividade e em alguns casos essa subjetividade vem acompanhada de práticas que diferem da esperada heteronormatividade e, por ter tamanha importância na formação dos indivíduos, espera-se que a instituição escola esteja preparada para lidar e acolher todas essas diversidades. O que se observa, no entanto, é um total despreparo e até mesmo descaso em algumas situações.
Através de uma pesquisa realizada no ano de 2015, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais informa números alarmantes acerca de agressões físicas e verbais sofridas por alunos LGBT+ em ambiente escolar. Aproximadamente 27% dos alunos que participaram da pesquisa afirmaram ter sofrido agressão na escola e 73% foram alvos de xingamentos em razão de sua orientação sexual, dentre esses, apenas 42,4% afirmam ter denunciado tais agressões para a instituição pelo menos uma vez. Ao considerar o cenário onde o ambiente escolar se torna hostil para essa parcela da sociedade é um número baixo e pode-se inferir uma falta de iniciativas que busquem incentivar que esse tipo de violência seja denunciada.
Não é de se espantar que, em um cenário de constante violência, adolescentes LGBT+ não se sintam confortáveis em comparecer à escola e por vezes decidem abandonar de vez o ensino básico, ou pior, venham a cometer atentados contra a própria vida diante de tanto sofrimento e desamparo.
É imprescindível que escolas e todo seu quadro de funcionários adotem posturas mais acolhedoras com essa minoria social, tendo em vista que acesso à educação básica e de qualidade é garantido para todos segundo constituição. A adoção de aulas de educação sexual pode ser uma porta de entrada para que os alunos heteronormativos deixem de demonizar toda a sexualidade que se difere da sua. Aqui propõe-se a educação sexual como ferramenta de autoconhecimento, autonomia e conscientização que existem outras realidades e expressões e que todas devem ser respeitadas. Para o quadro de funcionários e professores, é necessário que eles sejam treinados para que saibam reconhecer e lidar com situações de violência e para que saibam acolher as vítimas, criando um ambiente onde elas se sintam confortáveis e, acima de tudo, seguras para que consigam denunciar casos de violência.
Vale ressaltar que a adoção dessas medidas é uma solução a curto prazo e que não necessariamente visa acabar com todos os casos de violência contra a população LGBT+, até porque em muitos casos esses atos ultrapassam os muros da instituição. Porém, sendo uma das principais fontes de formação social, a escola pode ser um importante aliado na criação de uma geração ou várias que entendem que a vida em toda sua diversidade deve ser respeitada.
Referências:
Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais. Secretaria de Educação. Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional
no Brasil 2015: as experiências de adolescentes e jovens lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais em nossos ambientes educacionais. Curitiba: ABGLT, 2016.
BBC. Com que idade descobrimos nossa orientação sexual?. G1 Disponível em <https://g1.globo.com/educacao/noticia/2018/09/01/com-que-idade-descobrimos-nossa-orientacao-sexual.ghtml>
CASTRO, Davi. LGBTfobia é uma das fortes causas do abandono escolar. TVBRasil Disponível em: <https://tvbrasil.ebc.com.br/estacao-plural/2017/07/lgbtfobia-e-uma-das-fortes-causas-do-abandono-escolar>
CEDEC - CENTRO DE ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA. Mapeamento das Pessoas Trans na Cidade de São Paulo: relatório de pesquisa. São Paulo, 2021
PRISCYLLA, H. et al. LGBTFOBIA, EVASÃO NO ENSINO E IMPLICAÇÕES COM A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS Disponível em: <https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/enpec/2021/TRABALHO_COMPLETO_EV155_MD1_SA109_ID1327_09082021120404.pdf> . Acesso em: 21 jun. 2023.

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