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JORNALISMO E EDUCAÇÃO NA RESISTÊNCIA À DESINFORMAÇÃO




Chegamos ao século XXI com a capacidade digital de disseminação de qualquer informação, inclusive as falsas, ampliada em limites inimagináveis em uma realidade analógica. A comunicação digital em rede, que amplificou velhos fenômenos desinformativos, exige dos leitores reflexões ainda mais apuradas para lidar com a avalanche de informações e desinformações que recebem diariamente. Na outra ponta, o jornalismo enfrenta o desafio de resgatar sua credibilidade e sobreviver em meio às mudanças ocorridas no ecossistema midiático.

Esses novos tempos exigem, tanto dos leitores quanto dos jornalistas, novos saberes e múltiplas leituras que envolvam a compreensão dos contextos políticos, econômicos, sociais e históricos implicados na produção e circulação da informação, e promova questionamentos e novas formas de participação ativa e crítica.

Não se trata apenas de saber utilizar as tecnologias digitais, mas também, e fundamentalmente, a apreensão das possibilidades e limitações de internalizar, na vida cotidiana, na prática docente e no exercício do jornalismo, a análise crítica constante dos diferentes textos midiáticos e a criação de mensagens alternativas que desafiem as omissões, apagamentos e viesses que permeiam as informações em circulação.

É nessa busca de alternativas de resistência e combate à desinformação que se insere o tema da dissertação de mestrado em Mídia e Cotidiano (PPGMC/UFF) defendida e aprovada em 16 de dezembro de 2021 por Ana Paula Alencar, integrante do Grupo de Pesquisa EMERGE. A dissertação intitulada “Competência Crítica em Informação e Prática Docente: uma análise sobre a relação do professor com a desinformação” foi orientada pelo professor Marco Schneider, e a banca foi composta pelos professores Adilson Odair Citelli (ECA/USP) e Alexandre Farbiarz (PPGMC/UFF) e pela professora Marielle Barros de Moraes (PPGCI/UFF).

A pesquisa se concentra na relevância da educação e na centralidade do professor no processo de enfrentamento à desinformação. O objetivo principal foi investigar a relação cotidiana dos professores da Rede Municipal de Ensino de Niterói (RJ) com a informação e os desdobramentos dessa relação em suas práticas docentes, em específico no combate à desinformação. Os dados coletados por meio de entrevistas em profundidade foram analisados e agrupados de acordo com o método Discurso do Sujeito Coletivo, formando assim depoimentos sínteses que expressam o discurso da coletividade entrevistada.

Entre os resultados obtidos se destacam a relação predominantemente utilitária dos professores entrevistados com a informação e a falta de formações e espaços de debate sobre o tema, o que se desdobra em práticas pedagógicas de combate à desinformação fragmentadas e insuficientes para alcançar resultados significativos de resistência e transformação social. Na discussão desses resultados, a pesquisadora apresenta como contribuição para uma formação crítica de professores em relação à informação, duas vertentes crítica que combinam aportes teóricos da Comunicação, Educação e Ciência da Informação: a Alfabetização Crítica para a Mídia e a Competência Crítica em Informação.

A partir da inter-relação entre alfabetização midiática, estudos culturais e pedagogia crítica, a Alfabetização Crítica para a Mídia, propõe uma leitura com múltiplas perspectivas que envolva textos e contextos e promova uma compreensão mais densa e acurada da realidade, fortalecendo assim o combate à desinformação. Por sua vez, a Competência Crítica em Informação, fundamentada em grande parte na Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, aponta a consciência da relação da informação com os processos de opressão, exploração e dominação como caminho possível para o debate sobre a democratização da informação e criação de alternativas aos regimes hegemônicos.


Ampliação e aprofundamento da pesquisa


Aprovada no processo seletivo de doutorado do PPGMC/UFF em 2022, Ana Paula Alencar dará continuidade à pesquisa ampliando a discussão sobre as potencialidade e disputas na formação de leitores críticos da mídia. Na argumentação sobre as potencialidades, irá aprofundar os benefícios da triangulação de aportes teóricos da Comunicação, Educação e Ciência da Informação, evidenciando aproximações e complementações que possam fortalecer às iniciativas de resistência à desinformação, através de espaços de debates e trocas de experiência entre professores e jornalistas.

Na investigação sobre as disputas envolvidas na formação de leitores críticos, o ponto de partida será a hipótese de que as políticas públicas relacionadas à formação em educação midiática e informacional, oferecida aos professores do ensino básico no Brasil, sofrem influências de forças econômicas que limitam a sua potência crítica e impedem sua efetiva aplicação no cotidiano escolar.

Enquanto a pesquisa avança, além da dissertação de mestrado, que em breve estará disponível no site do PPGMC/UFF, é possível conferir um pouco mais sobre a fundamentação teórica explorada pela pesquisadora, no artigo “Essência e aparência da desinformação na vida cotidiana” escrito por Ana Paula Alencar e Marco Schneider. Os pesquisadores apresentam o pensamento de Agnes Heller e Karel Kosik sobre os desafios e possibilidades da vida cotidiana e refletem sobre as possibilidades de compreensão, crítica e transformação do fenômeno da desinformação a partir da decomposição e suspensão da cotidianidade para o conhecimento das suas engrenagens. O artigo foi publicado no e-book "O tecido social da Comunicação, da Cultura e da Informação", produzido pelo EPCC e EMERGE e também comentado no podcast científico produzido pelo EPCC disponível no Spotify.


 
 
 

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