Realities Shows como potencializadores de cancelamentos e discursos de ódio nas redes sociais
- commovimentouff
- 12 de jul. de 2023
- 3 min de leitura

Texto por: João Araujo, Marcella Cardoso e Thamyres Medeiros (Graduandos(as) da UFF).
Desde de 2000, com o lançamento de “20 e Poucos Anos”, o primeiro reality show brasileiro, esse tipo de programa foi conquistando cada vez mais espaço nos lares do país. Ao longo destes 23 anos, eles foram ganhando diferentes formatos, tipos de exibições e públicos, de modo a repercutir de forma generalizada entre quase todas as classes e gerações de nossa sociedade.
Com a proliferação do uso das redes sociais, os realities shows começaram a deixar de ocupar apenas a televisão e passaram a abranger, também, outros meios de comunicação, principalmente na Internet, por meio do Twitter e Instagram.
Em 2020, com o início da pandemia de coronavírus, os realities ganharam ainda mais força e repercussão entre as pessoas. O Big Brother Brasil 20, por exemplo, atingiu recordes de votação em um programa de televisão, entrando até mesmo no Guinness Book, alcançando a marca de 1,5 bilhão de votos em um único paredão.
Diante disso, com o público mais atento aos realities e mais presente em redes sociais, locais nos quais muitos acreditam estarem protegidos e disfarçados para falarem o que bem entenderem, sem se preocupar com o tipo, legalidade e senso dos conteúdo que postam, o discurso de ódio e o cancelamento se tornaram uma infortuna extensão dos realities.
Qualquer deslize dos participantes dos programas torna-se o necessário para que grupos de pessoas cometam ataques em redes sociais, com xingamentos e, até mesmo, ameaças para o participante e as suas famílias, como foi o caso da Karol Conká, integrante do “BBB 21”, que, além de inúmeros ataques com palavras de ódio, recebeu ameaças de violências físicas e de morte, assim como ameaças para o seu filho Jorge Conká, de apenas 15 anos na época. Karol foi eliminada com 99,17% dos votos no primeiro paredão que esteve presente e, mesmo após sua eliminação, os ataques continuaram, sendo até mesmo mais severos e agressivos.
Atualmente é raro encontrar algum reality que não possua um integrante que sofreu uma onda de hate e ataques nas redes sociais, sobretudo no Twitter. Dayane Mello, participante do “A Fazenda 13”, por exemplo começou como uma das grandes favoritas do público para o prêmio. Contudo, após se afastar e criar uma rivalidade com Rico Melquiades, originalmente seu aliado no jogo, não apenas perdeu o seu favoritismo, como sofreu um grave cancelamento e diversos xingamentos nas redes.
Rico Melquiades, por sua vez, sofreu um considerável nível de ataques quando participou do reality “De Férias com o Ex”. Devido ao seu jeito explosivo de falar e agir, o influencer alagoano chegou a receber discursos de ódio preconceituosos, homofóbicos e xenófobos.
Um fator muito relevante para que esses tipos de ataques criminosos ocorram com demasiada frequência e de forma tão escrachada é que não existe uma fiscalização eficiente dos conteúdos postados nas redes, principalmente quando trata-se do Twitter, principal meio utilizado para promover essas ondas de hate. Até mesmo o processo de denúncia é burocrático e devagar, de modo que muitos deixem de efetivar a denúncia por preguiça. Assim, aqueles que destilam seus ódios e preconceitos na rede se sentem seguros, pois sabem que dificilmente as consequências de seus atos chegarão para eles.
Os realities, apesar de serem uma grande e relevante forma de entretenimento para a sociedade, se tornaram um dos principais pontos de início para o cancelamento e discursos de ódio. Tornou-se comum as pessoas acharem justo definir a vida inteira dos participantes apenas pelas ações mostradas nos programas, nos quais eles estão em situações completamente alheias de suas realidades e de seus cotidianos. Após julgarem que determinada pessoa é ruim, grupos fazem de tudo possível para destruir a vida daquele participante fora do programa.
Os cancelamentos e ataques nas redes sociais causam consequências drásticas para as vidas de quem se está direcionado, podendo gerar traumas psicológicos, medo e até mesmo perdas de contratos e patrocínios. Miria Ribeiro, psicóloga e terapeuta, em entrevista ao “Terra”, afirma que "os telespectadores ganham tanto 'poder' de julgar as ações do jogador que extrapolam isso para as ações do ser humano por trás do jogo".

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