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Sociedade do Cansaço: o Mal-estar Contemporâneo

Atualizado: 30 de jan. de 2022




Ao longo dos anos, é comum que a sociedade sofra transformações, com o surgimento de novas tecnologias, novas doenças e consequentemente, novos modos de viver.


Esses novos modos de viver acarretam no surgimento de novos mal-estares dos indivíduos, conceito estudado na larga obra do psicanalista Sigmund Freud, que buscava entender o que causava o sofrimento dos seres humanos na sociedade moderna.


Assim, buscamos aqui entender melhor de que forma chegamos no que chamamos de sociedade do cansaço, suas características e o que possibilitou seu surgimento.


Com base nos textos de Sigmund Freud e na obra “Vigiar e Punir” do filósofo Michel Foucault, é possível entender melhor as questões de mal-estar e modos de sofrer em cada sociedade.


Primeiramente, analisando a sociedade moderna, é evidenciado pelos autores que esta quebra com o regime anterior, a sociedade deixa de lado a repressão física do indivíduo e assim surgem as instituições disciplinares, como os hospitais e escolas, que Foucault analisa fazendo uma analogia com prisões, onde o corpo é colocado em um sistema de coação e privação, de obrigações e interdições.


E é a partir disso que a culpa se desenvolve como fonte de mal-estar nessa sociedade, representada na imagem abaixo que está presente no livro do autor:




Aqui, a corda que corrige a árvore é a própria representação da culpa, evidenciando a lógica disciplinar dessa sociedade. Nas escolas, por exemplo, a culpa é trabalhada em forma de advertências, notas baixas, expulsões. E isto fica evidente no texto de Freud, explica a culpa como moderação e renúncia para regular a vida comum, tendo como efeito o mal-estar moderno.


Com a modernização da sociedade, Foucault explica que a sociedade industrial passou a se contentar com um poder mais tênue sobre os corpos, chegando então no que ele intitulou de sociedade de controle, nossa sociedade atual.


Nossa sociedade substituiu o “você deve” da sociedade anterior, pelo “eu quero”, acarretando no surgimento de outro tipo de mal-estar, já que o indivíduo deixa de estar confinado por paredes e passa a estar conectado em redes, com um horizonte de possibilidades infinitas.


Desta forma, nasce o ser humano que está eternamente endividado, não apenas na questão financeira, mas no sentido existencial, com tarefas acumuladas e uma constante frustração de “tudo querer, mas nem tudo poder”.


O mal-estar aqui surge pela falta de limites, com a transformação da casa que deixa de ser um espaço de confinamento da sociedade disciplinar e passa a ser um centro de tele consumo, na sociedade de controle.


No livro “Sociedade do Cansaço” o autor Byung-Chul Han comenta sobre já temos vividos eras bacteriológicas, além de previsões de que a sociedade vivesse numa era viral, que com o avanço da medicina foi possível ser evitada.


No entanto, vivemos uma época neuronal, com o avanço de doenças neuronais como a depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (Tdah), entre outros.


Em uma sociedade que preza o acesso ao bem-estar para todos, o grande número de pessoas afetadas por esses distúrbios demonstra o caráter paradoxal da sociedade em que vivemos.


Na sociedade contemporânea o tempo excessivo dos indivíduos com aparelhos mobiles inteligentes criam novos sofrimentos, uma dependência emocional em uma sociedade que apresenta um discurso de que o que mais importa é a felicidade e o bem-estar.


A doutora em comunicação e professora da Universidade Federal Fluminense Paula Sibilia analisa a sociedade contemporânea, dizendo que “os mesmos aparatos que servem para a propagação dos malestares são ofertados como estratégias para a sua remediação e para a obtenção de mais prazeres, numa constante (e lucrativa) retroalimentação”. É comum vermos a venda de determinados produtos com a promessa de que o consumo será o responsável pelo alcance da felicidade, muitas marcas adotam esse discurso para o aumento de seus lucros, deixando o indivíduo em um ciclo consumista sem fim.


Assim, a falta de limites se relaciona diretamente com o mal-estar contemporâneo. Para exemplificar, uma moda recente são os diversos filtros do Instagram, que utilizados pelos usuários buscam refinar a pele, “melhorar” os olhos, aumentar as bocas, fazendo com que os usuários fiquem cada vez mais iguais, instituindo um padrão a ser seguido.


Já é possível encontrar relatos de pessoas que não conseguem postar fotos sem a utilização desses filtros, pois não se sentem mais bem com suas aparências. Como dito anteriormente, o filtro é apresentado como uma solução que segue agravando o verdadeiro problema.


Este mal-estar ultrapassa até mesmo limitações biológicas, uma vez que o próprio envelhecimento é visto com maus olhos. Assim, o que a professora chama de “mal-estar da conexão” existe pela oferta ilimitada de possibilidades e pela frustração do consumidor de não poder ter aquilo tudo, em uma sociedade que prega o ilimitado.


Por fim, “A comunicação generalizada e a superinformação ameaçam todas as forças humanas de defesa”, este trecho da Sociedade do Cansaço serve aqui como estímulo para pensarmos criticamente a sociedade que vivemos, com demandas eternas e a constante necessidade de o consumo estar atrelado a nossa felicidade.


Não existe ao certo resposta para como saímos deste ciclo vicioso, mas é necessário que este debate ocorra, de modo a entendermos de que forma o avanço da tecnologia e das comunicações estão diretamente ligados ao nosso bem-estar, e neste caso, a falta do mesmo.



 
 
 

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